30 de ago. de 2009

Na primeira vez em que ela choveu por aqui – o essenfelder emanava do rádio cansado da tarde –, toda angorá, com sua saia, suas coxas, fui às casas Bahia: levar o dedo através do pó dos móveis. O dia morreu nela.

Na segunda em que ela aqui apareceu, toda suja de Manuel Bandeira, eu bebia um copo de graxa com o prefeito.

À terceira vez ela entrou no mar. À noite sonhei com generais que ardiam na fogueira.

28 de ago. de 2009

Ela diz que usa sabonete lux. Toda tarde a tarde toda
o sabonete no sono do sexo. – Se o automóvel cansado morrer para sempre, é possível que escutamos, no lado claro do coração, o som que o sabonete faz na folhagem escura entre as coxas.

Depois do gozo, reza a um deus desmemoriado, ao deus que esqueça, no seu sexo impecavelmente lavado, a língua molhada.





15 de ago. de 2009

Nono mandamento, primeira confissão:

Eu me deito, todos os dias, com o saltimbanco dessa zorra toda, Barrabás, e ele chora, nas falhas de meu pensamento, o orvalho de seu labirinto. Depois ligo o rádio e o coral de Monteverdi destroça os barcos na praia.


11 de ago. de 2009

Descobri, em mim, duas tendências. Uma, estimar as idéias religiosas ou filosóficas por seu valor estético e, ainda, pelo que encerram de singular e maravilhoso. Outra, a de pressupor, e verificar, que o número de fábulas ou metáforas de que é capaz a imaginação dos homens é limitado; mas que essas invenções contadas podem ser tudo para todos.

Borges.

1 de ago. de 2009

Todo homem decente se envergonha do governo sob o qual vive. A guerra contra os privilégios nunca terá fim. Sua próxima grande campanha será a guerra contra os privilégios especiais dos desprivilegiados. A democracia é a arte de administrar o circo à partir da jaula dos macacos. Quanto mais esperto o político, em mais coisas ele acredita - e menos acredita em qualquer delas.


H. L Mencken