4 de set. de 2009

trecho da novela "Eu queria ser aquela sombra que o chapéu faz em tua clavícula".
para p. lira


vou sonhar a pedra do teu coração feito um martelo no linho obscuro da pérola
quem chorou o muro das lamentações
intui que a eternidade é a loucura longínqua de facas atravessadas Ela entra no céu por uma greta atravessada naquela nuvem: se deus falasse, ficaria calado: ela é o próprio mistério dos sinos todos de todas as catedrais de todos os mistérios transversais atravessados na memória: à noite ela deita a tessitura da cervical na grama fria: eu queria atravessar teu peito com esse arpão sagrado que é a palavra, então escrevo esse cavalo árabe que não morrerá comigo: nasço o abismo floral de todo escuro: um tigre doente habita o meu peito frio E se casei com a noiva da neve, foi para que me soprasse: o gelo: no gelo do coração: a língua gelada na nuca d’aço-frio: as minhas mãos: que mais algas marinhas: encharcariam: num concerto de rachmaninoff: a peixe todo o municipal. Assim ela entraria em meu coração: com o sono do chuveiro espalhado na pele, vestiria toda a nudez quando sai da toalha molhada e atravessa o filme do Fellini já gagá entre a névoa: filma essa música espalhada na paisagem: um deus decaído, que se falaria, preferiria ficar calado, chupa a chuva na tua coxa com brincos de coral e pérola caindo das orelhas: o arpão da língua a atravessa até o infinito: se te falo: todo o livro é uma declaração de amor, foi porq chorei esses versos ainda hoje quando entravas no esquecimento de um dia de tédio: o tédio já é o deus cansado de sua falta do que dizer pois pode que ele desconheça a melancolia, e o amor: eu entro no quarto com o chapéu de chuva atravessado com violinos de Béla Bartók: ela não acende algum cigarro: não pensa nas lamas do führer: eu bebo a água acumulada na sua clavícula:

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